A cor do ano da Pantone é uma volta aos anos 2000

Crédito: Fast Company Brasil

Mark Wilson 4 minutos de leitura

Por volta do ano 2000, toda a estética mudou. O pop, o grunge e o minimalismo dos anos 1990 se foram. E o que os substituiu foi um visual brilhante e supersaturado, inspirado em grande parte na ascensão da Internet e dos telefones celulares. Uma vez que o techno-pânico da época acabou se revelando uma farsa, já que o famigerado “bug do milênio” não teve o impacto imaginado, a estética dos anos 2000 tornou-se visivelmente otimista, cheia de brilhos prateados e de efeitos metalizados em tons de arco-íris que eram quase brilhantes demais para serem vistos sem óculos escuros.

(Crédito: Polygon 1993 / Pantone)

Hoje, com a explosão das reuniões no Zoom, dos NFTs e das inúmeras conversas sobre o metaverso, é como se estivéssemos novamente entrando nos anos 2000. Esse é um dos motivos pelos quais a Very Peri foi cor que a Pantone definiu como a sua aposta para 2022. Sua linha de base realmente lembra as cores da pervinca — a flor que inspirou o nome da cor — mas com um toque de vermelho iridescente abaixo de sua superfície. O resultado é uma cor cintilante que você já deve estar vendo em todos os lugares: desde o jogo Fortnite até as bicicletas de alta tecnologia da marca S-Works, passando pelo desfile masculino de primavera-verão da Louis Vuitton e chegando até às luzes de LED. Não à toa, a Pantone acredita que essa cor captura o zeitgeist atual.

Louis Vuitton Menswear Primavera-Verão 2022 (Crédito: Kristy Sparow / Getty Images)

“As cores que vemos na tecnologia têm uma influência maior no design”, disse Laurie Pressman, vice-presidente do Pantone Color Institute. “Mas ainda estamos conectados com a natureza.”

(Crédito: cortesia da Pantone)

A Pantone chegou à sua escolha por essa cor específica da mesma forma de sempre: pesquisando tendências em todas as esferas do mundo — na moda, nos produtos, na arte, nas viagens e nos materiais. Mas, pela primeira vez desde o lançamento do seu programa Cor do Ano, em 2000, a Pantone realmente criou uma cor novíssima para seu anúncio, em vez de extrair uma cor de sua biblioteca de tons existentes. Pressman — que enxerga o programa Cor do Ano como uma impressão digital social, tanto quanto uma sugestão de tendência — acredita que a decisão pela Very Peri reflete a adaptação de uma sociedade que está mudando rapidamente suas próprias práticas em face da Covid-19, e adotando novidades que vão desde o trabalho remoto até a entrega de alimentos. Nossa forma de vida aparentemente mudou da noite para o dia. 

(Crédito: cortesia da Pantone)

“Sentimos, com o mundo em transformação, que a melhor maneira de capturar esse clima coletivo e entrar no desconhecido, seria transformar nosso próprio processo, mas garantindo que a cor que introduzíssemos fosse um reflexo desse momento cultural único”, explica Pressman.

(Crédito: Cariuma/cortesia da Pantone)

Ela se chama Very Peri para expressar “o mais feliz e mais quente dos azuis” – e vale lembrar que os azuis são considerados uma cor “confiável”. A adição de vermelho adiciona uma pitada de vigor. “Todos os dias você acorda sem saber o que vai acontecer”, filosofa Pressman. “Precisamos dessa energia e dessa ousadia para encarar o que está por vir.”

(Crédito: Microsoft/cortesia da Pantone)

Mas Very Peri não é apenas um retorno cíclico e nostálgico aos anos 2000. A cor Pantone do ano 2000 havia sido o Cerulean Blue, com uma linha de base mais próxima a um prateado tecnológico – lembra da cor do celular Motorola V3 de flip? Por outro lado, a Very Peri é uma cor orgânica, encontrada na natureza. Quanto ao tom vermelho, era quase impossível vê-la nos gráficos e telas de baixa resolução da era 2000. Já a iridescência do Very Peri requer uma textura renderizada em 3D de maior fidelidade, seja real ou digital, para que ela realmente ganhe vida.

E um detalhe interessante: a amostra da Pantone para a cor do ano é uma imagem abstrata, que se assemelha tanto à pele de um animal quanto ao cabeamento de fibra óptica, pontilhada com esferas perfeitas que só poderiam sair de uma máquina. “Normalmente, escolhemos uma imagem bastante tangível, para que as pessoas possam entender exatamente o que estamos imaginando”, diz Pressman. “Mas essa [mudança] foi intencional. Não sabemos ainda o que o futuro trará.”

(Crédito: Microsoft/cortesia da Pantone)

Para abraçar ainda mais os temas tecnológicos, a Pantone também se uniu à Microsoft para lançar o Very Peri como uma série de papéis de parede, paletas de PowerPoint e até mesmo como um filtro de câmera Teams, que permitirá que você adicione o cenário Very Peri à sua casa sem precisar repintar suas paredes. A Pantone até colaborou em uma obra de arte digital em Very Peri, com o artista digital Polygon 1993, renderizada com um efeito lenticular que brilha na tela. Mas nem todas as empresas que se uniram em pré-lançamentos de objetos coloridos eram digitais. Os tênis Cariuma (foto acima) é um exemplo disso.

“Somos uma empresa que ajuda designers em sua capacidade de expressão, de comunicação e de reprodução de cores”, define Pressman, que se recusa a esclarecer se o seu trabalho é um NFT. “Ele é realmente o que é. Estamos explorando nosso caminho rumo ao metaverso.”


SOBRE O AUTOR

Mark Wilson é redator sênior da Fast Company. Escreve sobre design, tecnologia e cultura há quase 15 anos. saiba mais