Este edifício experimental tem um telhado feito de barcos

Crédito: Fast Company Brasil

Mark Wilson 3 minutos de leitura

Buckminster Fuller escreveu que quando os antigos vikings chegaram à Escandinávia, eles viraram seus barcos ao contrário e ergueram-nos em mastros. Os cascos arqueados à prova d’água formaram um telhado perfeito.

Como muitas histórias interessantes sobre os vikings, esta pode não ser verdadeira. (Suas casas realmente possuíam telhados que pareciam barcos, mas, na verdade, os vikings construíam casas para as suas embarcações!). Agora, o pavilhão nacional da Itália para a Exposição Mundial de Dubai está colocando esta ideia em prática. 

O pavilhão possui três barcos no topo, que a dão forma e a funcionalidade de um telhado. E quando o pavilhão não for mais necessário, os barcos poderão velejar (teoricamente levando muitos dos componentes do prédio para uma nova locação onde o pavilhão poderá ser construído novamente). 

(Crédito: Massimo Sestini / cortesia Massimo Sestini para @ Italyexpo2020)

O pavilhão foi projetado por um time de arquitetos e designers italianos, incluindo Carlo Ratti Associati e Italo Rota, com a F&M Ingegneria e Matteo Gatto. Ele é uma resposta direta aos principais eventos de arquitetura, de exposições até as Olimpíadas, em que construções enormes são feitas para serem usadas apenas uma vez. Essas construções custam caro para a economia e também para o planeta. A construção civil é um dos maiores contribuintes para a mudança climática, desde a produção e transporte de materiais até sua refrigeração.

(Crédito: Massimo Sestini / cortesia Massimo Sestini para @ Italyexpo2020)

“Em oposição a esta abordagem. . . queríamos desenvolver uma arquitetura que pudesse transformar-se através do tempo e de forma sustentável,” diz Carlo Ratti, que é professor do MIT e um arquiteto famoso por projetos inovadores como os arcos arquitetônicos feitos em laboratório e as ilhas flutuantes que produzem energia.

O pavilhão foi construído sobre uma duna de areia com 150 pilares de aço ancorados no chão, que suportam três barcos de 131 pés. Os barcos não são meramente decorativos, mas legitimamente dignos do mar, construídos em colaboração com o maior estaleiro da Europa, o Fincantieri. Uma vez instalados, oferecem um esqueleto inclinado sob um telhado fino de aço, com furos para deixar a luz entrar. 

“Quando você olha, de baixo, para o telhado, enxerga uma sucessão de ondas interrompidas por fachos de luz,” aponta.

(Crédito: Massimo Sestini / cortesia Massimo Sestini para @ Italyexpo2020)

Não há paredes no pavilhão. A circunferência é construída com cordas náuticas penduradas na parte superior e entrelaçadas com LED para iluminar durante a noite. As cordas são feitas de plástico reciclado, o equivalente a 2 milhões de garrafas plásticas. Plataformas suspensas permitem que o visitante explore o segundo andar flutuante, que é primariamente construído com pó de café e cascas de laranja recicladas — materiais que foram secos e moídos em um processo desenvolvido pela empresa química Mapei. O uso de material reciclado equivale a 10.000 pés quadrados de construção.

“Os barcos falam de circularidade através do reúso, a casca de laranja e o pó de café sobre circularidade através de materiais naturais,” explica Ratti. 

Areia retirada localmente – bastante abundante em Dubai – é usada no piso e nos revestimentos do pavilhão. 

(Crédito: Massimo Sestini / cortesia Massimo Sestini para @ Italyexpo2020)

O arquiteto e professor do MIT não tem qualquer apego aos materiais ou métodos usados na construção do pavilhão. Na verdade, eles são apenas provisórios. A areia pode não ser o melhor piso a ser usado em outros lugares do mundo no futuro. O pó de café, fornecido pela empresa italiana Lavazza, não será necessariamente tão abundante em outras partes do mundo. Por isso, quando o pavilhão for empacotado nos barcos e velejar para outros países, as partes podem ser fabricadas de forma diferente dependendo de onde aportarem. 

“Nós gostamos da ideia de um pavilhão que pudesse mudar constantemente de forma”, conta Ratti. Porém, pode demorar bastante tempo antes disso acontecer. Com abertura em outubro de 2021, Dubai já escolheu o pavilhão para ficar anos após o fim da World Expo em março de 2022, e talvez até ser transformado em um museu de design.

“Talvez os barcos tenham que esperar mais alguns anos antes de partir para o mar novamente”, diz.


SOBRE O AUTOR

Mark Wilson é redator sênior da Fast Company. Escreve sobre design, tecnologia e cultura há quase 15 anos. saiba mais