Porque não é bom que os veículos elétricos sejam tão pesados

Crédito: Fast Company Brasil

Adele Peters 3 minutos de leitura

O novo modelo totalmente elétrico da picape Ford F-150 Lightning foi projetada para incentivar os motoristas a diminuir as emissões de carbono. Mas o modelo elétrico também é muito mais pesado, totalizando 2.948 quilos, ou 35% a mais do que a F-150 movida a combustível. Isso se deve principalmente ao tamanho da bateria interna. 

Um novo artigo da Revista Nature analisa o peso dos veículos elétricos e a importância de torná-los mais leves. “O que chamou minha atenção no anúncio da F-150 Lightning foi o quanto ela é pesada… E, se prestarmos atenção, os veículos elétricos, de modo geral, são muito mais pesados ​​do que seus equivalentes a gasolina”, diz Blake Shaffer, co-autor do artigo e professor assistente nos departamentos de economia e de políticas públicas da Universidade de Calgary.

As baterias não têm tanta energia quanto o combustível e, à medida que os veículos ficam mais pesados, eles se tornam mais perigosos. (Mesmo sem as baterias, os veículos em geral estão ficando muito mais pesados:  as picapes de hoje em dia são 32% mais pesadas do que costumavam ser.) No caso de um acidente entre um veículo mais leve e um veículo mais pesado, quem estiver no carro mais leve tem maior probabilidade de morrer. Os pedestres também correm um risco maior. Além disso, a fabricação de veículos mais pesados requer mais material e mais energia, e seus pneus ​​geram mais poluição por micropartículas quando se desgastam. Isso tudo aumenta o impacto ambiental. 

No artigo, os autores fizeram um cálculo aproximado para examinar os custos sociais do peso dos veículos elétricos. “Percebi que esse custo era realmente muito grande”, relatou Shaffer. Em países onde a frota não é tão limpa, o custo das vidas perdidas por causa dos veículos pesados ​​pode rivalizar com os benefícios das emissões evitadas. Isso não quer dizer que os veículos elétricos sejam ruins, afinal, suas vantagens aumentam conforme a frota fica mais limpa. Mas o que os pesquisadores querem apontar é que, na hora de pressionar por mais veículos elétricos, os governos devem se preocupar também com o peso desses veículos. 

Os pesquisadores sugerem que os veículos mais pesados ​​poderiam pagar uma taxa de registro mais alta, o que incentivaria os consumidores a comprar carros leves. (Taxas de registro mais altas também ajudariam a compensar a queda da arrecadação relativa aos impostos sobre a gasolina, uma vez que menos carros usam esse combustível.) O governo também poderia ajudar a pagar por P&D (pesquisa e desenvolvimento) para aprimorar a tecnologia elétrica, para que ela possa evoluir mais rapidamente. Algumas montadoras, por exemplo, estão desenvolvendo maneiras de incorporar baterias ao chassi dos veículos, para reduzir o peso. Em outras partes do carro, novos materiais podem ajudar a torná-lo mais leve e resistente, compensando a bateria pesada. Já câmeras, sensores e outras tecnologias, mais comuns em alguns carros, podem ser usadas para ajudar a evitar acidentes.

Até agora, as montadoras aproveitaram as melhorias nas baterias – que estão ficando melhores e mais baratas – para aumentar o rendimento e a potência de seus veículos. Mas quando mais postos de recarga de bateria estiverem ao alcance dos motoristas, em qualquer lugar, não será mais tão necessário adicionar rendimento às baterias – afinal, a maioria dos trajetos feitos por carro são curtos, de qualquer maneira. Ou seja: em algum momento, as baterias vão poder começar a encolher.

Os autores também lembram que os veículos elétricos não são a única resposta para reduzir as emissões de carbono no transporte. “Trocar um carro a gasolina por um carro elétrico é, de certa forma, conservar a ordem atual”, aponta Shaffer. As redes rodoviárias permanecem inalteradas, e as pessoas mantêm seu hábito de dirigir. “Uma mudança realmente grande seria mudar a forma como nos deslocamos”, defende. “Existe todo um conceito em torno da ideia de dirigir menos – isso envolve mais planejamento orientado para o trânsito e maior densidade nos centros da cidade, onde caminhar e andar de bicicleta podem ser alternativas mais convenientes, mais viáveis e, o mais importante, mais seguras. No fim das contas, a melhor maneira de reduzir os danos causados ​​pela direção é dirigindo menos.”


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais