A revolução da longevidade


Adriana Knackfuss 4 minutos de leitura

Todas as sociedades do mundo estão no meio de uma revolução da longevidade, com a população mundial acima de 60 anos crescendo de forma mais acelerada do que todas as outras faixas etárias. Em 2030, 1 em cada 6 pessoas no mundo terá mais de 60 anos, e em 2050 este mesmo grupo representará 2,1 bilhões de pessoas. E o Brasil não é exceção a esta realidade: segundo dados do Ministério da Saúde, já tínhamos a quinta maior população de idosos do mundo em 2016, grupo que, em 2030, ultrapassará o total de crianças entre zero e 14 anos.

A população não está apenas envelhecendo: pessoas estão vivendo mais e aumentando sua “expectativa de saúde”. Isso significa que à medida que a população de idosos aumenta, também cresce um grupo de consumidores, trabalhadores e inovadores atentos a novas oportunidades de produtos e serviços.

“Contrariando uma série de mitos ao redor desse target, baby boomers são usuários ativos de tecnologia, e seu uso de smartphone mais do que dobrou nos últimos oito anos.”

Toda esta transformação na pirâmide etária mundial aponta para uma das maiores transformações sociais, econômicas e políticas do nosso tempo, e trará implicações importantes para os mais diversos tipos de empresas e setores da sociedade.

A VEZ DOS BABY BOOMERS 

Nos EUA, dez mil baby boomers completam 65 anos todos os dias. Estima-se que eles terão 70% da renda disponível nos próximos cinco anos, embora menos de 10% dos esforços de publicidade sejam direcionados a eles. Contrariando uma série de mitos ao redor desse target, baby boomers são usuários ativos de tecnologia, e seu uso de smartphone mais do que dobrou nos últimos oito anos. Quando se trata de saúde, 78% deles usam tecnologia para acessar informações médicas.

No entanto, startups de tecnologia bem como a maioria das marcas de consumo têm historicamente se concentrado em desenvolver soluções para as gerações Y e Z, desconsiderando a crescente oportunidade de se conectar de forma diferenciada com esse grupo de pessoas.

Mas por que será que esse segmento do mercado recebe tão pouca atenção das marcas?

Existem várias hipóteses que podem ajudar a explicar a situação corrente (assim como dados que suportam a escolha estratégica por trabalhar um target versus outro), porém me parece interessante refletirmos sobre potenciais atitudes e estereótipos que persistem mesmo com essa mudança importante no contexto da sociedade. Destaco aqui 2 pontos que considero relevantes para esta discussão:

1) A crença de que quanto mais idade temos, menos abertos somos a mudar de marcas:  existem inúmeros estudos que suportam esta crença, porém, na medida em que soluções inovadoras passem a priorizar as diferentes motivações e necessidades de grupos etários mais avançados, identificaremos novas janelas de comunicação e engajamento.

2) A crença de que esse target não é tech savvy, e é homogêneo (por exemplo, “o mercado 65+” ou o “mercado sênior”):  a crescente penetração de internet neste target é indiscutível, e vem acompanhada de uma também utilização cada vez maior de canais importantes de comunicação e socialização. Nos EUA, 92% da população de mais de 65 anos têm celular, 34% assistem a conteúdo on demand e 34% tem um perfil em rede social. Essa mudança no perfil de consumo de meios digitais nos ajudará a pensar em novas maneiras de segmentar esse público não só por idade, mas também por interesses, valores e informações que reflitam seus diferentes estágios de vida.

Em ambos os casos fica claro uma necessidade urgente de redescobrirmos essa parcela da população e mergulharmos de forma mais profunda na transformação extraordinária que estamos vivenciando como sociedade.

DE MERCADO INCOMPREENDIDO PARA OPORTUNIDADE CRESCENTE 

Estamos diante de um novo estágio de vida que é longo e cheio de novas possibilidades.

Segundo o Dr. Joseph Coughlin, diretor do Massachusetts Institute of Technology AgeLab e autor de Longevity Economy: Unlocking the World Fastest-Growing, Most Misunderstood Market, (Economia da Longevidade:  desbloqueando o incompreendido mercado que mais cresce no mundo, em tradução livre), a “velhice” é uma construção social que não reflete como as pessoas vivem de forma realista após a meia-idade. 

Desenvolver soluções para pessoas que estão nesta etapa da da vida pode exigir um pensamento diferenciado de user experience, bem como um pensamento diferenciado de canais. No entanto, as empresas que se dedicarem a esses desafios estarão melhor posicionadas para competir neste mercado que representará 20% da população mundial nas próximas décadas.

Este texto é de responsabilidade de seu autor e não reflete, necessariamente, a opinião da Fast Company Brasil


SOBRE A AUTORA

Head de integrated marketing experiences (IMX) da Coca-Cola para a América Latina e eleita Women to Watch. Designer de formação, ingre... saiba mais