Arcane e como 10 anos levaram League of Legends a uma expansão de marca

Crédito: Fast Company Brasil

Jeancarlos Mota 11 minutos de leitura

Jogos online são um fenômeno e League of Legends fez escola. Depois de dez anos de atualizações e a criação de uma extensa Lore (história de fundo e todos os elementos que complementam a narrativa principal), a Riot Games resolveu ir além. A empresa trouxe diversos anúncios de jogos dos mais diversos gêneros, que conversam entre si nessa mesma Lore, e uma nova e surpreendente proposta em 2021: uma série animada.

Arcane chegou para trazer o universo do League of Legends para quem nunca jogou LoL. E esse é apenas o mais recente fruto de uma expansão de marca notável, que mostra estar apenas no começo.

DEZ ANOS E A EXPANSÃO DE RUNETERRA

Runeterra (que significa Terra Mágica) é o reino em que os Campeões de League of Legends existem e no qual toda a história dos jogos da Riot Games acontece. Espalhados pelos 11 domínios deste universo, os Campeões, personagens principais do LoL, surgem em conjunto com uma história rica, de um mundo construído à medida em que a Riot atualizava seu game.

Runeterra, mundo mágico de League of Legends (Crédito: Riot Games)

Aos poucos, a empresa mostrou seus mundos do LoL enquanto lançava novos personagens para o jogo. E, apesar de também ser uma desenvolvedora, a Riot sempre foi a distribuidora de seu próprio e, até então, único jogo, prática que se manteve até que o League completou 10 anos.

Se Piltover e Zaun são as cidades que unem os continentes de Valoran (terras do Norte) e Shurima (as terras ao Sul), foi neste exato momento de celebração que mudou tudo, pois a Riot anunciou uma expansão que uniu o League of Legends a universos inesperados.

Durante seu evento online de uma década, a marca não apenas trouxe novidades e skins (diferentes roupagens e representações de seus personagens) para sua obra principal, mas — pela primeira vez — saiu dela. Na época, Jarred Kennedy, vice-presidente de Propriedade Intelectual da Riot Games, disse em entrevista ao IGN que a empresa já tinha novos jogos em mente “há mais de seis anos”. Entretanto não tinham anunciado nenhuma novidade antes, pelo fato de o foco da Riot sempre ter sido em League of Legends. E esses seis anos acabaram por se transformar em seis anúncios impressionantes.

Wild Rift traz uma nova experiência League of Legends para plataformas móveis (Crédito: Riot Games)

League of Legends: Wild Rift é uma versão completamente nova do MOBA, que já conhecemos para plataformas mobile (smartphones e tablets). Disponível inicialmente para sistemas iOS e Android, o game tem planos para também chegar aos consoles em algum momento e traz mecânicas mais dinâmicas do League of Legends para partidas mais rápidas.

Teamfight Tactics recebeu uma atualização inspirada na série Arcane (Crédito: Riot Games)

Já Teamfight Tactics é um jogo de estratégia que utiliza os campeões do LoL em uma espécie de autochess. Nele, você conta com um sistema de batalha por turnos em que posiciona seus campeões antes do início de um combate e vê os resultados dessas batalhas se desenrolando automaticamente. Então, basta melhorar seus itens e evoluir seus campeões, ao combiná-los com outros de mesmo tipo, para ter ainda mais bônus e chances de vencer. Pensado inicialmente para PC, o TFT também chegou para plataformas móveis iOS e Android.

Valorant cresceu rapidamente no gosto dos fãs de jogos de Tiro e também como uma forte cena de esports (Crédito: Riot Games)

Enquanto isso, Valorant foi apresentado como o “Project A” na celebração dos 10 anos da Riot. O jogo de tiro tático implementou mecânicas velozes na forma de um mix do gênero — semelhante aos visto em games como CS:GO e Rainbow Six — com o estilo de personagens com classe, visto em games como Overwatch ou Team Fortress. A obra marcou a primeira vez em que a Riot Games se aventurou fora da ambientação de League of Legends — apesar de já terem dito que Valorant se passa no Multiverso da Riot, um “Mirroverse”, no qual LoL está incluso. O título cresceu rapidamente entre fãs do gênero, tem atualizações regulares com novos personagens e mapas, além de um cenário de esports que se torna cada vez mais sólido com o passar do tempo.

Ainda sem um título definitivo, os fãs aguardam pelo jogo de luta no mundo de League of Legends (Crédito: Riot Games)

Ainda enigmático, o “Project L” será o game de luta da Riot Games no mundo de League of Legends. Na ocasião da celebração de 10 anos, a empresa mostrou partes do jogo que está em desenvolvimento sob a responsabilidade dos estúdios Radiant, adquiridos pela Riot Games em 2016.

Legends of Runeterra segue a linha de card games onde sorte é o menor elemento se comparado à estratégia (Crédito: Riot Games)

Legends of Runeterra foi o penúltimo anúncio da festa e faz a cabeça dos apaixonados por card games e LoL. O estratégico game de cartas conta com habilidade em vez de sorte para definir o vencedor. Para tanto, é necessário combinar suas cartas de Campeões, aliados e regiões de Runeterra para criar um deck de sinergias entre cartas e derrotar seu oponente, antes que ele execute uma combinação ainda melhor. O game é gratuito, mas com microtransações, e está disponível para PC, iOS e Android. Para envolver ainda mais os fãs do LoL, LoRT utiliza as regiões de Runeterra como coleções para a criação de seus decks de cartas.

Contudo foi o último anúncio da noite de festa, que conectou os mundos gamer e não gamer.

BEM-VINDOS A ARCANE

Lançado no início de novembro, Arcane já é sucesso de público e crítica (Crédito: Riot Games)

Antes mesmo de lhe explicar o roteiro ou motivos pelos quais tantas pessoas estão assistindo Arcane, tenha uma certeza: ela é um fenômeno. Anunciada na festa dos 10 anos, a animação da Riot em parceria com a Netflix chegou apenas agora, no início de novembro. Arcane chamou atenção de fãs do jogo e também dos assinantes do streaming desde seu lançamento, pois não saiu do Top 3 dos títulos “Top 10 do Brasil” na plataforma. Tamanho evento seria apenas o começo.

A série conseguiu a posição número 1 em 52 países e, de quebra, lançou um formato bastante incomum na Netflix. Três novos episódios são lançados por três semanas consecutivas, sempre aos sábados. Você pode estar se perguntando se isso agradou, certo? Arcane conseguiu uma média de 9.3 de 10 no Metacritic e 100% de crítica e 98% de média da audiência no Rotten Tomatoes, algo consideravelmente mais alto que qualquer outra obra na categoria “top streaming” do site (ou de qualquer outra obra de TV!).

Vi certamente não deixará o povo de Zaun entregue à própria sorte em Arcane (Crédito: Riot Games)

Os Atos de Arcane são protagonizados por Jinx e Vi, irmãs órfãs já conhecidas dos jogadores do LoL. Ela também revela detalhes da região de Piltover, a mais rica e tecnológica cidade de toda Runeterra. Lá podemos encontrar mais da história de Campeões queridos dos jogadores (ou Invocadores no LoL), como Heimerdinger, Victor e Jayce. Em contraste, a produção da Riot para TV mostra Zaun, cidadela que fica embaixo de Piltover. Lá, os cidadãos costumam ser explorados por seus vizinhos e isso termina por gerar um conflito entre as cidades. Zaun também é terra de Ekko, Urgot e Jinx, que não escondem sua rivalidade contra os Piltovenses. Ela começa com contos do passado das cidades, seus conflitos e habitantes e evolui para revelações incríveis de como tudo chegou até o ponto que os jogadores conhecem em League of Legends.

Por mais que você sequer tenha ouvido falar de League of Legends, Arcane te conquistará se der chance a um único episódio. A animação tem qualidade e traços simplesmente belíssimos, de encantar os olhos, que são combinados a uma trilha sonora de tirar o fôlego — a abertura conta com música do Imagine Dragons e com o cantor JID –, personagens cativantes e um roteiro que nos prende a cada novo episódio.

Para jogadores, Arcane marcou uma estratégia de marca surreal da Riot Games. Não apenas com skins exclusivas no LoL, e sim com uma estratégia 360 de interações com todos os jogos da empresa, inclusive Valorant, que teve sua primeira ação conjunta com outro jogo da empresa. Não foi à toa que os Campeões que aparecem na série agora são mais selecionados pelos jogadores em partidas do que nunca. A popularidade da Jinx aumentou dos 11,8% de taxa de seleção em 6 de novembro para 17,5% no momento da escrita deste artigo, de acordo com o LoLalytics. Jayce, por outro lado, disparou dos 3,7% no mesmo dia para um pico de 12% em 11 de novembro, antes de se estabelecer em cerca de 8% — mais do que o dobro do número de jogadores desde a estreia do programa.

De quebra, a Riot já mostrou que esse é apenas mais um passo de sua expansão de marca. A empresa confirmou que já está planejando fazer mais shows de League of Legends e até mesmo filmes de live action em seu universo cinematográfico de Runeterra, após o imenso sucesso inicial de Arcane e sua estreia de três episódios na Netflix. Em uma entrevista ao LA Times, a presidente de entretenimento da Riot, Shauna Spenley, revelou que o universo de League of Legends ficará muito maior nos próximos anos, com “mais por vir” nas telas grandes e pequenas.

“Não acho que Hollywood perceba como tudo isso é massivo”, continuou. “Acho que temos uma grande oportunidade de construir histórias orgânicas incríveis dentro deste mundo [de Runeterra] e para que ele se construa silenciosamente e se torne a IP (propriedade intelectual) que define uma geração. Nós estaremos por aqui por mais algum tempo: e vai levar pouco tempo para isso acontecer”.

E — mesmo que ainda não seja uma certeza se teremos a segunda temporada de Arcane com esses mesmos personagens ou ainda focada em outro conjunto de Campeões dentro do universo de League (uma vez que há mais de 150 deles) ou ainda em outra região de Runeterra — apenas uma coisa é certa: nós, fãs de League of Legends (e telespectadores da Netflix), queremos mais Arcane.

LOL ALÉM DAS TELAS

Ashe é apenas uma das séries de HQs de League of Legends com a Marvel (Crédito: Riot Games)

A Riot não para por aí, e League of Legends conta com muito mais que jogos, séries e animações. Suas histórias em quadrinhos também têm crescido entre os fãs e sua parceria com a poderosa Marvel ajuda a entender o resultado da qualidade prezada pelas duas empresas. Nos quadrinhos de Ashe, Lux e Zed, conhecemos mais sobre eles e outros personagens, como o popular Garen, além de irmos mais a fundo em Demacia, terra do exército mais poderoso de toda Runeterra. Se sua curiosidade for além dos HQs, é possível descobrir mais sobre o mundo do LoL no livro sobre os Reinos de Runeterra, oficialmente lançado no Brasil.

(Crédito: Red Bull / Riot Games)

A marca ainda conta com parcerias com a Red Bull, para torneios anuais de esports entre jogadores amadores. O Red Bull SoloQ põe os melhores do Brasil em disputa para ver quem é o melhor do país em confrontos 1 x 1, formato de confronto criado pela marca de bebidas energéticas (normalmente, LoL é disputado em 5 x 5) que se tornou oficial pela Riot. É interessante notar que alguns dos participantes de edições anteriores tiveram a oportunidade de jogar em gaming houses de times de esports famosos e consolidados no país graças ao evento. Isso resultou na profissionalização de alguns dos competidores, como Julio N0sferus e Victor ‘Vitin’ Ruiz. Isso sem falar das latas colecionáveis temáticas de League of Legends da bebida, lançadas em edições anteriores.

A Riot ainda conta com outros produtos League of Legends, que vão de cadernos escolares até parcerias com Chilli Beans e Havaianas. Com a Chilli Beans, a Riot fechou uma parceria de novos produtos, que estarão disponíveis a partir de janeiro do próximo ano — sete modelos de óculos e um relógio. Em paralelo com a Havaianas, a Riot Games lançará um produto com imagens de LOL não apenas no Brasil, já que essa é uma parceria global. A novidade chega ao mercado nos próximos meses.

Tudo isso sem deixar de mencionar parcerias com outros jogos, como a chegada de Skin da Jinx no Fotnite, ações no PUBG Mobile ou os novos jogos indie da Riot Games lançados com o selo Riot Forge.

Posso não saber ao certo os planos da Riot Games para seus próximos 10 anos. Entretanto também não tenho dúvidas que eles serão bastante promissores. Até lá, vamos continuar na exploração de tudo que Runeterra pode nos oferecer e torcer por mais episódios de Arcane.


SOBRE O AUTOR

Jeancarlos Mota é co-publisher de games da Fast Company Brasil, editor-chefe do IGN Brasil e apaixonado por games e esportes. saiba mais