Ação #AfundeEstaIlha se destaca em um oceano de mensagens perdidas

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Na edição de 2021 do SXSW, o diretor de filmes James Cameron participou de um painel chamado Ocean Storytelling. Na ocasião, ele argumentou sobre a potência que os documentários tem de aproximar as questões relativas ao meio ambiente das pessoas, trazendo para perto assuntos que, tantas vezes, se mantiveram a uma distância incapaz de tocar as pessoas verdadeiramente. Para Cameron, tudo sempre foi uma questão de storytelling — como se conta uma história, e a sua potência de provocar a ação, o “call to action” tão essencial para que a realidade se transforme de fato. Seu documentário, O segredo das Baleias, carrega segundo ele, essa potência — ao provocar nas pessoas um tipo de emoção mais instigante. 

Neste sentido, é preciso dizer que, em grande medida, a publicidade tem falhado na missão de provocar emoções capazes de levar a ações, repetindo, ao longo do tempo, velhos clichês ou praticando um exercício criativo vazio e  descompromissado. São poucas as ações verdadeiramente mobilizadoras. Como a que transformou em notícia a represa de Jurumirim, no município de Avaré, em São Paulo. Lá amanheceu, dia desses, um visitante inesperado: o ativista Guto Zorello, morador da comunidade agroecológica @a.matoca e cofundador do coletivo “porquenão?”. A maior seca dos últimos 90 anos fez surgir na represa uma ilha de cerca de 38 mil metros quadrados, onde o ativista acampou para chamar a atenção para a crise hídrica e mobilizar o empresariado para conhecer as diretrizes da Rede Brasil do Pacto Global da ONU, a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, que convida o setor privado a assumir compromissos de implementar os 10 Princípios do Pacto Global em suas estratégias e operações. 

No município de Avaré, em São Paulo, uma ilha se formou em meio a represa devido à seca na região e a diminuição do volume d’água (Crédito: reprodução #afundeestailha)

A ilha foi transformada, numa iniciativa do Pacto Global e da agência ALmapBBDO, em símbolo na ação #afundeestailha. O “náufrago” Zorello registrou sua passagem pela ilha nas redes sociais (@gutozorello) chamando a atenção para a importância de, literalmente, afundar a ilha — o que só ocorrerá quando a represa voltar a ter seu nível de água normalizado. Zorello topou a empreitada porque diz que a campanha sai do lugar comum, utilizando uma narrativa que desperta o interesse da mídia, algo essencial para que a mensagem reverbere e atinja diferentes públicos: governantes, empresários e a população.

Zorello diz que se tornou ativista aos 22 anos (em 2013), quando passou a entender “como funcionam as coisas”, e como a civilização caminhava.

“Em um mundo cada vez mais orientado para o ESG, a publicidade está sendo convocada a comunicar os avanços que têm sido feitos e ajudar na luta pelo engajamento. Isso só se amplificou após 2020, em decorrência de fatores como e pandemia, desastres ambientais e disseminação de fake news”, diz.

O ativista Guto Zorello acampou em uma ilha que não deveria existir (Crédito: #afundeestailha)

Daniel Oksenberg, diretor de criação da AlmapBBDO, diz que a ilha no meio da represa de Jurimirim foi vista como uma oportunidade para subverter a velha lógica das campanhas do tipo “salve os oceanos” e “salve as florestas”. Ao colocar como objetivo afundá-la — uma causa incomum capaz de chamar a atenção e engajar as pessoas — a mensagem ganhou em potência e outras possibilidades de repercussão.

Para Oksenberg, não existe mais espaço para ideias que não mostrem resultados e impactos verdadeiros. “Acho que o mercado já entendeu isso”, afirma. 

O cliente à frente da ação, Otavio Toledo, head de marketing e comunicação da Rede Brasil do Pacto Global da ONU, diz que o mundo digital aproximou as ações das pessoas, em tempo real. Por isso ações que mobilizam a mídia são importantes. “Boa informação é fundamental para qualquer causa”, aponta ele, “e isso fica claro no mundo que vivemos hoje.” 

(Crédito: reprodução #afundeestailha)

Toledo diz que não há mais tempo para pensar. É preciso fazer, e que não há apenas uma forma de comunicar ou de fazer, mas está claro que é preciso falar das pessoas, e sobre como elas são impactadas pelas mudanças climáticas. Colocar o assunto no cotidiano. 

“Estamos na década da ação. Faltam oito anos para 2030, o fim da linha para a agenda 2030. E é claro que mesmo que todos estejamos sendo impactados, sabemos que nem todas as pessoas se preocupam, ou podem se preocupar com esses temas. Mas é preciso levar as informações de qualidade adiante”, ressalta, perseverante.

Agora é torcer pela trégua na seca, que colocou no mapa o pequeno estado de Jurumirim. 


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