O que uma das líderes do movimento #MeToo aprendeu sobre motivar as pessoas

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Já faz quatro anos desde que as investigações do New York Times a respeito dos crimes sexuais de Harvey Weinstein desencadearam o movimento #MeToo e desde que uma fúria contra assédios sexuais tomou conta do mundo. O evento marcou uma mudança radical na nossa perspectiva cultural em relação a improbidades sexuais e à força da palavra das mulheres. Quase um milhão de mulheres marcharam em protesto mundo afora.

Esse movimento global – que resultou em CEOs sendo depostos e em uma série de figuras públicas sendo desgraçadas – me encorajou a começar manifestações na Suécia. Tudo começou quando postei uma atualização no Facebook sobre minha experiência, que foi seguida por uma avalanche de comentários humilhantes da parte de homens raivosos. 

Aquela foi a gota d’água, e na manhã de uma terça-feira em outubro de 2017, eu organizei uma reunião para me conectar com mais mulheres que tinham tido experiências similares de discriminação de gênero e de assédio sexual. Eu não percebia ainda que aquele evento, que eu esperava ser um café com quatro ou cinco mulheres, poderia alcançar tamanha proporção, chegando a incluir 2 mil manifestantes apenas em Estocolmo. A marcha foi organizada em 14 cidades pela Suécia, com milhares de pessoas presentes e milhões assistindo ao vivo pela TV.

QUANDO ME TORNEI A “GAROTA PROPAGANDA” DE UM MOVIMENTO DE MASSAS 

Todavia, a tarefa de organizar o movimento vinha com um mar de desafios. Ser a cabeça de um evento tão relevante como este era intimidador e significava lidar com haters e ter que apagar incêndios constantes. Eu estava sempre cercada pela mídia e precisava aparentar saber o que estava fazendo e ter respostas para tudo que me perguntavam.  A pressão só aumentava à medida que presumiam que eu era a garota propaganda do movimento na Suécia. O único incentivo que me movia era que eu queria de fato criar uma mudança e, com o #MeToo, eu tinha que provar que isso era sério e não apenas um evento banal. 

O movimento #MeToo como um todo foi uma prova viva do poder de reunir pessoas. Eu me dei conta que era importante permitir àqueles movidos pelo mesmo objetivo que agissem e mostrassem seu apoio ou envolvimento no movimento. Em decorrência disso, passei a   delegar e a gerenciar um grupo diverso. 

Eu aprendi que os elementos centrais de criar um movimento como esse envolvem valores compartilhados, experiências compartilhadas e um propósito compartilhado. Se você pode entender o que motivou uma pessoa, você pode usar isso para melhorar a experiência dessas pessoas e seu foco. Um ponto fundamental foi notar que a mudança real motiva as pessoas a seguir em frente. E, em última instância, leva à inovação e cria valores. 

Enquanto esses aprendizados podem ser aplicados em muitas situações, mal sabia eu que liderar esse evento também me ajudaria nas minhas empreitadas futuras na indústria da tecnologia. Vamos avançar quatro anos no tempo: eu agora sou responsável por ser chefe de web segurança da empresa Detectify Crowdsource, uma comunidade de 350 hackers éticos. 

TRABALHAR EM PROL DE UM MESMO OBJETIVO JUNTO A HACKERS ÉTICOS  

Depois que tomei as rédeas do Detectify Crowdsource, mais ou menos um ano e meio atrás, o objetivo era claro – engajar, compreender e ajudar hackers a se tornarem parte de uma comunidade em sintonia com valores alinhados no que diz respeito à cybersegurança. Além disso, eu tinha como objetivo expandir continuamente a comunidade e recrutar mais hackers. 

Manter os hackers motivados tem sido um processo contínuo de aprender a força motriz deles e ter de se assegurar de que eles usam suas habilidades e conhecimentos da melhor forma possível. 

Eu aprendi que para muitos hackers, o poder do propósito é prioritário em comparação ao lucro. Para eles, a segurança e a privacidade online de uma empresa pesam muito mais que o dinheiro. Especificamente, na nossa plataforma, hackers apreciam a gamificação do programa de recompensas para bugs, onde eles precisam ir à caça por pontos e conseguir novos acessos. De fato, quando a lenda dos investimentos Ray Dalio disse “o único propósito do dinheiro é de te dar o que você quer, então pense bem no que você valoriza e coloque isso acima do dinheiro”, ele foi certeiro.

O verdadeiro desafio veio enquanto eu tentava fazer algo novo e revolucionário. A comunidade Crowdsource de hackers éticos é bastante única, então não há uma prática pré-definida e não há um próximo passo óbvio – um desafio que eu já havia enfrentado com o movimento #MeToo. Eu segui o mesmo plano de ação em ambas as ocasiões. Eu persisti e atravessei inúmeros tetos de vidro. 

EXPANDINDO A COMUNIDADE HACKER 

Apesar de ser um caminho tortuoso, gerenciar a rede Crowdsource segue me energizando porque eu me conecto com hackers pelo mundo que são saudados num amplo espectro. No último ano, vimos um crescimento de 43% no número de hackers éticos que se tornaram parte da comunidade. A diversidade precisa se ampliar e meu alvo é abarcar mais mulheres para a comunidade hacker através de uma nova iniciativa que chamamos de Hacker School [Escola de Hackers]. Esse é o primeiro passo para criar uma mudança duradoura na indústria da tecnologia. 

De olho no futuro, pretendo expandir a comunidade com hackers num contexto vantajoso para nós e para eles. É tentar ser parte de uma plataforma que faça a diferença para o mundo, ajudando empresas a agirem de forma segura num mundo digital repleto de criminosos. O foco central é no crescimento do conhecimento. Como hackers podem aprender mais uns com os outros e como podemos ajudá-los a se tornarem melhores no que eles já fazem de melhor? É importante garantir que o tempo e o esforço investidos pelos hackers sejam bem recompensados e que eles ganhem mais da comunidade Crowdsource do que apenas dinheiro.


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