A cruzada do YouTube contra vídeos que mentem sobre vacinas

Crédito: Fast Company Brasil

Claudia Penteado 3 minutos de leitura

Alguém poderá dizer: demorou! De todo modo, o YouTube decidiu ser mais duro com o movimento anti-vacina que vem ganhando nuances políticas em virtude dos imunizantes criados para combater a covid-19. A plataforma de vídeos do Google anunciou que agora acabou: vídeos com desinformação sobre essas e outras vacinas validadas pelas autoridades médicas e pela OMS estão banidos. E os usuários mais insistentes poderão ficar sem seu canal.

Ao comunicar sua decisão, o YouTube informou que, desde o ano passado, removeu mais de 130 mil vídeos por violar as políticas que elaborou sobre conteúdos relacionados à vacinação contra covid-19. Seu novo passo na cruzada contra a proliferação de fake news sobre os imunizantes foi dado porque as vacinas “têm sido uma fonte de debates acirrados ao longo dos anos, apesar da orientação consistente das autoridades de saúde sobre sua eficácia”.

O YouTube já tem diretrizes que proíbem certos tipos de desinformação médica. Entre os vídeos banidos estão alguns que promoviam “tratamentos” que, na verdade, faziam mal, como dizer que beber terebintina pode curar doenças (!).

Com a pandemia, foram criadas mais 10 diretrizes a respeito da covid-19 e de desinformação médica – e entre elas muitas mentiras pura e simplesmente. Essas novas regras é que levaram a plataforma a retirar do ar os tais 130 mil vídeos.

Como explica o YouTube, desde o início destes tempos de pandemia, a empresa aprendeu lições importantes sobre como aplicar políticas sobre desinformação médica em escala. Havia a necessidade de manter um equilíbrio entre o compromisso de ser uma plataforma aberta e a necessidade de remover conteúdo nocivo. O fato, porém, é que as entidades médicas estavam perdendo o jogo contra fake news não apenas no que se refere à covid-19.

“Temos constantemente visto afirmações falsas sobre as vacinas contra o coronavírus se espalharem pela desinformação sobre as vacinas em geral, e agora chegamos a um ponto em que é mais importante do que nunca expandir o trabalho que iniciamos com a covid-19 para outras vacinas”.

É fato que as taxas de vacinação para diversas doenças estão caindo nos últimos anos no mundo e no Brasil. Entre elas, o sarampo. Por aqui, o quadro já ameaça elevar a ocorrência de algumas enfermidades a níveis vistos no passado – em certos casos, os índices de vacinação beiram os patamares da década de 80.

Nesta semana, o Ministério da Saúde revelou dados que alarmaram especialistas. No caso da BCG, que deve ser aplicada em crianças abaixo de cinco anos para prevenir a tuberculose, em 2015 a taxa de imunização foi de 105,08%. No ano passado, o índice ficou em 73,78%.

A pandemia atrapalhou, mas, como dito, a busca por vacinas tem diminuído desde 2015. A taxa de vacinação em crianças dentro do Programa Nacional de Imunização ficou em 75%. Os especialistas estabelecem como ideal percentuais acima de 90%.

Fontes médicas e seguras

Por isso, diante de cenários tão alarmantes, a medida do YouTube, que veicula mais de 1 bilhão de horas em conteúdo todos os dias, é realmente impactante. Para definir suas novas políticas em relação às vacinas, a companhia consultou organizações de saúde e especialistas. Essas referências ajudaram a formular os alertas que versam sobre efeitos colaterais dos imunizantes que trazem fontes médicas.

Conteúdo que faça alegações falsas contra vacinas aprovadas (por exemplo, que falem de supostos efeitos crônicos sobre a saúde ou que afirmem que elas não reduzem a transmissão de doenças) será removido. Nessa linha estão os vídeos que propagam, mentirosamente, que os imunizantes provocam autismo, câncer e infertilidade. Ou aqueles que tentam convencer o público de que substâncias utilizadas no produto contêm chips para rastrear e controlar indivíduos.

 


SOBRE A AUTORA

Claudia Penteado é editora chefe da Fast Company Brasil. saiba mais