Como os Schurmann vão ajudar a combater o plástico nos oceanos

Crédito: Fast Company Brasil

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A Família Schurmann, famosa por suas viagens em veleiro ao redor do mundo, acaba de iniciar mais uma jornada nos mares. Desta vez, a expedição mundial, a quarta deles, leva embarcada uma missão que conta com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Batizada de Voz dos Oceanos (ou Voice of the Oceans), a viagem tem como objetivo conscientizar a população a respeito do lixo nos mares, em especial os plásticos, e engajá-la em ações urgentes para a preservação das águas.

Se na primeira vez que deram a volta ao mundo num veleiro, em 1984, os Schurmann – Vilfredo, Heloísa e os filhos Pierre, David e Wilhelm – saíram de Florianópolis sem uma causa para abraçar e permaneceram dez anos navegando pelos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico, colecionando histórias que se transformaram no livro “Dez anos no mar” (1995), desta vez a meta é coletar dados para ajudar a comunidade científica a combater o problema.

O plástico que infesta os mares é o foco da primeira parte da expedição, que deu largada no domingo 29, com o veleiro Kat partindo de Balneário Camboriú (SC), e que se estenderá por dois anos até atingir a Nova Zelândia. O plano estabelece que serão feitas 60 paradas ao longo dessa rota, sendo seis meses pela costa brasileira.

Depois desses dois anos, a família terá três meses para descansar no Brasil e reavaliar a missão, que poderá mudar de objetivo principal, como a crise climática, mas sempre com foco nos oceanos. Afinado o propósito, serão mais dois anos de viagem, seguidos por outros dois, completando a rota pelo mundo em seis anos.

É fundamental agir agora. A Plastic Soup Foundation, outro apoio internacional da expedição, aponta que, se nada for feito com efetividade, em 2050 o volume de plástico nas águas será mais pesado do que a soma dos peixes de todos os oceanos.

Todos os anos cerca de oito milhões de toneladas de plástico chegam aos oceanos. É um custo ambiental equivalente a US$ 8 bilhões anualmente. É tanto material poluindo os mares que existem verdadeiras ilhas de plástico boiando pelas águas.

Por isso, para ajudar a evitar essa tragédia marítima, a Voz dos Oceanos está dividida em três vertentes, com diferentes apoios de instituições: educacional, científica e a de inovação. A primeira tem entre suas metas criar material educativo e conteúdo gamificado para impactar estudantes, além de oferecer oficinas de formação, com estudos sobre oceanos, resíduos e sustentabilidade. A parceria é com os institutos Irapa (que apoia projetos assistenciais no Brasil) e Supereco, uma OSCIP que promove soluções socioambientais para transformar vidas.

O pilar ligado à inovação visa buscar soluções para as indústrias de polímeros e sua cadeia de valor. O programa está à procura de startups que desenvolvam projetos para substituir, reduzir e reutilizar esses materiais ao longo de seu ciclo de produção. Serão abertas inscrições globais para essa vertente. A meta é selecionar 1,5 mil na primeira fase. A aceleradora catarinense Spin é a parceira da expedição e vai capitanear esse processo. Estão como apoio institucional o Pacto Global da ONU Meio Ambiente e a Abiplast (Associação Brasileira de Indústria de Plásticos).

Vale dizer que o projeto como um todo tem o patrocínio das marcas Kaiak (Natura), Corona (Ambev), Faber-Castell e Sabesp.

CIÊNCIA A BORDO 

Já a vertente científica tem como parceiro a Infinito Mare, empresa de São Paulo que desenvolve projetos para proteção dos oceanos e é liderada pelo cientista ambiental e marinho Bruno Libardoni. A tecnologia a bordo irá registrar dados que serão compartilhados com um comitê formado por 14 cientistas, entre brasileiros e estrangeiros.

A Voz dos Oceanos especifica que seu projeto científico tem três metas principais:

– Investigar a qualidade da água e a biogeoquímica dos oceanos. Um sistema autônomo irá gerar observações em alta resolução, com dados coletados a cada minuto de lugares contrastantes para mostrar os impactos sofridos pelos oceanos e sua biogeoquímica. Assim, será possível compreender como as atividades humanas estão alterando a química dos ecossistemas marinho-costeiro.

– Analisar áreas mais amplas dos oceanos, em associação com voos de drone e sensoriamento remoto via satélite. Uma câmera hiper-espectral acoplada a um drone fará voos periódicos para coletar informações sobre a interação da luz do sol na superfície da água. Como todos os objetos possuem uma assinatura espectral (uma identidade), incluindo o lixo plástico, os sensores estão calibrados para fazer a leitura via assinatura espectral dos materiais detectando, desse modo, materiais plásticos presentes na superfície.

– Construir o Hub Voz dos Oceanos, uma rede global para defender, proteger e conservar os oceanos, a fim de disponibilizar, de forma ágil, dados confiáveis para a comunidade científica e para a opinião pública em geral, unindo pesquisadores, ambientalistas, empreendedores, ONGs, instituições e governos.

KAT, O VELEIRO

É claro que, para tal propósito, seria necessário que o barco dos Schurmann estivesse adequado à mensagem que pretende espalhar pelo mundo. O veleiro Kat passou por sete meses de reforma. Ele tem o nome da filha de Vilfredo e Heloísa que foi adotada aos três anos na Nova Zelândia e que morreu em 2006, aos 13 anos, por consequência da Aids, adquirida de sua mãe biológica.

Com uma tripulação de oito pessoas, a embarcação de 80 pés (ou quase 24 metros de comprimento) possui seis cabines, duas salas, uma cozinha e três banheiros. O Kat faz uso de energia limpa, numa combinação de eólica, solar e hídrica (as hélices são hidrogeradoras) e conta com geradores de baixo consumo e sistema de tratamento de esgoto equipado com luz ultravioleta na fase final, que devolve a água ao mar praticamente pura.

O veleiro possui ainda um mecanismo para dessalinização da água do mar. E a maior parte do tempo ele será movido pelo vento. Tudo para que seja o mais sustentável possível não só para sua tripulação como para os visitantes que se juntarão à Voz dos Oceanos nesses dois anos – a capacidade é de 14 pessoas. Entre eles, estarão os cientistas do projeto. E há a expectativa de atrair o próprio secretário-geral da ONU, o português António Guterres, quando o Kat estiver em Nova York, entre abril e maio de 2022, se os ventos e as correntes marítimas assim o permitirem.


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