Desigualdade até na hora de brincar? A Lego dá apoio às meninas

Crédito: Fast Company Brasil

Claudia Penteado 4 minutos de leitura

Meninas podem brincar de qualquer coisa, mas há quem não perceba o quanto isso é sério. Uma pesquisa encomendada pelo Lego Group revela que as garotas se sentem cada vez mais confiantes para se envolver com todo tipo de jogos e atividades criativas. O problema é que elas são impactadas por estereótipos de gênero, há muito tempo arraigados na sociedade. Realizado pelo Instituto Geena Davis, o estudo entrevistou quase sete mil pais e crianças de 6 a 14 anos vivendo em sete regiões: China, República Tcheca, Japão, Polônia, Rússia, Reino Unido e EUA.

O trabalho apontou que, apesar de as meninas estarem dispostas a lutar contra discriminações relacionadas a gênero, o potencial criativo delas corre o risco de não se desenvolver como podia em virtude de preconceitos que envolvem, por exemplo, a “definição” de uma brincadeira “ser de menino”. A pesquisa destaca ainda a necessidade de a sociedade reconstruir percepções, ações e mesmo palavras para apoiar o empoderamento criativo de todas as crianças.

Meninas dão menos respaldo a preconceitos de gênero do que os meninos quando se trata de brincadeiras criativas. Deles, 74% acreditam que algumas atividades são destinadas apenas para meninas, enquanto outras são para meninos. Esse índice é de 62% no caso delas. Se a pergunta se refere a futebol, 82% das garotas afirmam que não tem problema em meninas jogarem. Se for balé, 71% dos garotos dizem que eles podem praticar. 

Para a maioria das profissões criativas, os pais imaginam um homem na função, independentemente de terem filho, filha ou ambos. Eles são quase seis vezes mais propensos a pensar em cientistas e atletas como homens do que mulheres (85% versus 15%). Engenheiros? Os pais são quase oito vezes mais propensos a pensar, de novo, em homens (89% responderam que a profissão é para “eles”). Mulheres na engenharia representam apenas 11% das respostas. 

Outros resultados do estudo indicam que meninas são normalmente encorajadas a atividades e brincadeiras que são mais cognitivas, artísticas e relacionadas a performance em comparação com os meninos. Eles acabam sendo empurrados para atividades físicas e jogos que pertencem à categoria chamada de STEM (ciência, tecnologia, engenharia & construção e matemática). 

Quando os pais são questionados a respeito do estímulo que dão para certas atividades, mais uma vez, os estereótipos prevalecem. No caso de dança, eles são quase cinco vezes mais propensos a encorajar as meninas para essa atividade (81% das respostas) do que os meninos (19%), dando a entender que isso é assunto para elas. Se a pergunta se referir a usar fantasias, eles tendem a dizer que a prática é para garotas (83%, contra 17% das respostas indicando os garotos). Se o assunto for cozinhar ou assar, 80% dos pais pensam em meninas; 20% pensam em propor a atividade para meninos. 

E se os jogos forem relacionados à tecnologia ou esportes, como se comportam os adultos? Games, na visão dos entrevistados, são mais para meninos do que para meninas (80% versus 20%). No caso de esportes, os índices são 76% para eles contra 24% para elas. E quanto a brinquedos que envolvem codificação? Para 71% dos pais isso é para os garotos. Elas foram a resposta de 29% dos adultos.

BRINQUEDOS INCLUSIVOS

De acordo com a pesquisa, muitos pais consideram a Lego como exemplo de marca de brinquedos inclusivos. Mas os adultos acabaram revelando que consideram a atividade de montar as peças mais relevante para os garotos (59% dos pais pensam assim). Se os pais são perguntados mais diretamente sobre para quem indicariam os brinquedos da Lego, 76% encorajariam seus filhos a se entreterem com as peças. E somente 24% incentivariam suas filhas. 

“Os benefícios das brincadeiras criativas, como o desenvolvimento da confiança, criatividade e habilidades de comunicação, são sentidos por todas as crianças, mas ainda vivemos estereótipos antigos que rotulam as atividades como sendo adequadas apenas para um gênero específico”, disse Julia Goldin, CMO do Lego Group, diante dos resultados. Por isso, a companhia decidiu lançar uma campanha para aumentar a conscientização sobre o problema. “Sabemos que temos um papel a desempenhar para consertar isso”, completou. 

A empresa diz que a campanha será uma de várias iniciativas para garantir que os produtos da marca sejam mais inclusivos. “Todas as crianças devem ser capazes de atingir seu verdadeiro potencial criativo”, declarou Julia.

Não foram detalhadas mudanças em linhas de produtos para atender esse compromisso, mas a companhia assegurou que fará com que seus brinquedos sejam “livres de discriminação de gênero e estereótipos prejudiciais”.

PRONTO PARA AS GAROTAS

Intitulada “Ready for Girls”, a nova campanha da Lego é composta por três curtas-metragens protagonizados por meninas inspiradoras e até empreendedoras dos Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos e Japão. Fatima, 18, e sua irmã Shaika, 08, estão em um desses filmes. Fatima é a inventora mais jovem dos Emirados Árabes Unidos. Já sua irmã adora espaço e deseja ir para a lua (veja abaixo um dos curtas).


SOBRE A AUTORA

Claudia Penteado é editora chefe da Fast Company Brasil. saiba mais