O que sabemos sobre a variante Omicrom

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Na semana passada, a notícia da circulação de uma nova variante do coronavírus, chamada Omicron, abalou o mundo. Especialistas em saúde pública explicam que levará semanas até obtermos uma imagem completa de como essa mutação do vírus está afetando a saúde humana, mas, enquanto isso, existem medidas que podemos tomar para mitigar nosso risco de infecção.

Desde quando a Organização Mundial da Saúde rotulou a Omicron como uma variante de preocupação, aprendemos algumas coisas. De acordo com o The New York Times, ela possui 50 mutações — muito mais do que qualquer outra variante. É importante ressaltar que 30 dessas mutações estão na proteína spike, a parte do vírus que lhe dá a capacidade de se agarrar às células humanas. Até agora, a Omicron foi detectada em 20 países, incluindo os EUA. O Centro para Controle e Prevenção de Doenças anunciou que o primeiro caso foi identificado na Califórnia.

O que não sabemos ainda é se o vírus ficou mais transmissível, se ele vai deixar as pessoas mais doentes ou se as mutações o tornam resistente às vacinas atuais (o CEO da Moderna, Stephane Bancel, já declarou que acredita que a vacina da empresa pode ser menos eficaz contra a Omicron). Embora haja motivos para preocupação, os especialistas em saúde pública nos lembram que existem muitas precauções simples que podemos tomar para lidar com essa nova variante da COVID-19.

“Use máscaras em locais públicos fechados, certifique-se de que você está vacinado, dirija-se a um posto de saúde caso não esteja e respire fundo, porque eu prometo que saberemos mais em algumas semanas”, aconselhou Megan Ranney, diretora e médica da do Brown-Lifespan Center for Digital Health, em Rhode Island.

Mesmo com uma nova variante potencialmente em ascensão, os americanos têm ferramentas para lidar com o vírus da COVID-19 que não tinham no ano passado. Máscaras e vacinas demonstraram conter a transmissão. Em breve, a Food and Drug Administration (FDA) pode aprovar medicamentos da Merck e Pfizer que são capazes de tratar pacientes hospitalizados com COVID-19, fornecendo aos EUA outra ferramenta para combater o vírus. Na terça-feira, um comitê consultivo da FDA votou a favor da aprovação do antiviral da Merck, o molnupiravir, embora haja várias perguntas sem resposta, incluindo se essa droga poderia estimular formas mais virulentas da COVID-19. A Pfizer tem um medicamento semelhante, pendente de revisão do FDA.

MÚLTIPLAS LINHAS DE DEFESA

Embora exista o risco de que as vacinas atuais sejam menos eficazes contra o Omicron do que contra as variantes anteriores, os anticorpos resultantes da inoculação ainda oferecem alguma proteção, de acordo com Alessandro Sette, professor de imunologia do Instituto La Jolla de Imunologia. “É razoável supor que essa variante será neutralizável em algum grau, mesmo que com uma diminuição”, confirma ele. Mas acrescenta que os anticorpos não são a única defesa do sistema imunológico; também temos que considerar a resposta das células T. Os anticorpos evitam que a Covid-19 infecte uma pessoa, enquanto as células T fornecem controle de danos. Se os dados mostrarem que a resposta das células T permanece forte — uma grande incógnita, Sette reconhece — isso significará que, embora as pessoas vacinadas possam ser infectadas, elas podem ter uma manifestação menos grave da doença.

O mais importante, diz ele, é que as pessoas estejam vacinadas: “Reduzir a circulação viral é a melhor coisa que podemos fazer”.

A vacinação global em massa é necessária para prevenir o surgimento de novas variantes e para retardar a disseminação de variantes preocupantes. “Com o tempo, a disseminação incontida e a evolução acelerada em hospedeiros imunocomprometidos podem levar à mutação numa escala grande o suficiente para reduzir consideravelmente, ou mesmo totalmente, a eficácia das vacinas atuais”, escreveram Dennis R. Burton e Eric Topol, do Scripps Research Institute, na revista científica Nature em fevereiro. Menos de 60% dos cidadãos dos EUA foram completamente vacinados, e apenas 20% se sentem estimulados a vacinar, de acordo com dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças. As taxas variam consideravelmente entre as regiões: por exemplo, 50% dos residentes de Idaho receberam uma dose da vacina, enquanto 84% dos porto-riquenhos a receberam.

Globalmente, a diferença é ainda mais gritante. Dados da Organização Mundial de Saúde mostram que menos de 1% da população da República Democrática do Congo recebeu até mesmo uma única dose da vacina. “Essa variante [Omicron] reforça o nosso o argumento de que, para melhor ou pior, quando se trata de doenças infecciosas, o que acontece em uma [região] instantaneamente se espalha e afeta o que acontece com outras pessoas ao redor do mundo”, diz Ranney.

Até agora, os governos têm se concentrado em restrições de viagens que facilitariam a disseminação, apesar de muitos especialistas em saúde pública acreditarem ser um pouco tarde demais para tomar essa medida (o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa também disse que as proibições punem efetivamente o país por sequenciar o vírus e compartilhar seus dados). Os EUA estão atualmente restringindo viagens vindas de oito países africanos.

Enquanto isso, a esperança de Ranney é que o Omicron ajude a impulsionar a vacinação globalmente. “Tivemos sorte, já se passaram seis, sete meses desde que tivemos uma última variante perigosa”, diz ela. Mas é provável vermos mais delas, caso mais pessoas não forem vacinadas.

Ranney diz que se o Omicron for mais infecciosa e mais grave do que as variantes anteriores da Covid-19, caberá ao governo aumentar os testes, distribuir máscaras, vacinar e fornecer suporte extra para os sistemas de saúde. Até que saibamos mais, diz ela, devemos ser vacinados e usar máscaras em espaços públicos, e, acima de tudo cuidar de nossas vidas.

“Recebo muitas perguntas de pessoas, incluindo de minha própria família, sobre se devemos começar a pensar em cancelar as férias, e o que estou dizendo a todos é “calma, ainda não”. Espere uma ou duas semanas”, aconselha Ranney. “Saberemos muito daqui a duas semanas.”

(Este artigo foi escrito com informações de reportagem de Ruth Reader, da Fast Company)


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