5 perguntas para Gabriel Vallejo, da Oracle

Crédito: Fast Company Brasil

Claudia Penteado 7 minutos de leitura

Fast Company Brasil conversou sobre inovação, qualidade de vida e outros temas importantes com o vice-presidente de marketing Latam da Oracle, Gabriel Vallejo. Ele  construiu sua carreira, ao longo dos últimos 17 anos, como estrategista de marketing e comunicação em agências de publicidade/comunicação e consultorias de negócios, e chegou na Oracle em 2018. Vallejo tem 37 anos, tem uma banda de rock, anda de skate, surfa e tem um border collie chamado milk shake. E costuma de recomendar o livro “Not Impossible – the art and joy of doing what couldn’t be done”, de Mick Ebeling, um produtor de cinema que decide trabalhar com inovação e se torna CEO do Not Impossible Labs. “Ebeling diz que você pode fazer coisas grandiosas, ou pode começar escolhendo transformar a vida de uma pessoa. Isso já é transformar o mundo. É um livro que eu sempre indico, porque faz com que as pessoas possam dar um passo adiante: sonhar gigante, mas começar pequeno, e avançar ao longo do tempo”, diz.

O que é inovação para você?

Por essência, o ser humano tem um potencial de inovação brutal. Senão ainda estaríamos nas cavernas. No entanto, o mundo moderno, a velocidade que estamos vivendo, o acesso à informação nos colocaram numa armadilha. A armadilha do excesso de tudo e da falta de tempo. E quando caímos nessa armadilha de excesso e da falta, que é contraditória mas real, vejo que por sobrevivência habilitamos aquela parte do cérebro que faz com que não deixemos de respirar. E aí começamos a tomar decisões com base no que já vivemos e aprendemos. E nos repetimos, achando que este é o caminho seguro. Olhando sob essa ótica e esse contexto, a inovação está em conseguir manter a cabeça fresca para olhar para os problemas que já existem, e conseguir trazer novas soluções. E mais do que isso, conseguir reconhecer problemas que são novos. E entender que as fórmulas do passado nem sempre se aplicam. Isso é difícil, um exercício diário especialmente para quem trabalha com criatividade, com  tecnologia, pois a pressão do business e da falta de tempo é muito grande. Então inovação é isso: entender que as soluções que te trouxeram até aqui não são as que te levarão para frente, e conseguir enxergar problemas novos, reconhecendo que é preciso desenvolver coisas diferentes. A tecnologia sozinha não é inovação, mas habilita. É um meio. E as pessoas que passam a entender que a tecnologia pode ser uma abertura de portas para o novo, podem fazer coisas incríveis em saúde, em educação e outros setores. Mas tem muita inovação que não acontece com tecnologia. Pode ser uma forma de pensar, uma decisão tomada dentro da empresa, uma mudança na vida pessoal. Inovação é um olhar de turista, de sempre tentar descobrir algo novo.

Inovação é um olhar de turista, de sempre tentar descobrir algo novo.

E que habilidades você considera essenciais para ser líder neste momento?

Como liderança, nunca foi tão importante entender de gente. Sou jovem, numa cadeira de liderança, e vejo que historicamente os executivos sempre tiveram a posição e postura de oráculo. Mas a verdade é que ninguém sabe tudo.  Essa é a essência. É preciso ter a habilidade de montar um time que, junto, consiga ser mais forte. Todo time tem um Neymar, mas ele não faz gols sozinho. O talento coletivo sempre fala mais alto. Claro que é preciso entender de negócios e estar atualizado em relação a tendências, mas se você não entender de gente, para fazer com que a sua equipe seja a melhor dentro do contexto atual – de ansiedade, de insegurança –  é ganhar ou perder uma olimpíada. A liderança que não consegue entender isso em um nível mais profundo, não consegue ter um time de alta performance. O caminho do êxito é complexo, tem erros, tem revisão de estratégia, demanda humildade para reconhecer que nem todas as decisões são corretas, é preciso saber ouvir. Na minha equipe sempre procuro ouvir quem não concorda, que sempre pode trazer um ponto de vista diferente. Essa é a parte mais profunda da história. Depois, há outras camadas. Ser orientado a dados também é muito importante, e outro aspecto que entra é: ser capaz de inspirar por um propósito real. E sair da publicidade, do mundo da disneylandia, e praticar o que se acredita, walk the talk. Para fazer com que tudo se conecte, e construir o business que precisa ser construído de uma forma verdadeira, com brilho no olho, o time sabendo que pode fazer parte e ainda assim ter a vida pessoal preservada…e ser feliz.

O talento coletivo sempre fala mais alto.

E o que é qualidade de vida para você?

É uma pergunta difícil, porque qualidade de vida é ponto de vista. Para mim, é conseguir equilibrar tudo o que é importante para você. E não existe vida equilibrada. Existem momentos em que você está melhor numa coisa, e pior na outra. Ninguém consegue fazer dieta o tempo inteiro, academia o tempo inteiro, estar bem no trabalho, com a família o tempo inteiro, casamento bem, cachorro passeando três vezes ao dia. Qualidade de vida é conseguir dar prioridade às coisas que são mais importantes para você. Sabendo que terá de abrir mão de algumas coisas. E não sofrer com isso. Porque somos seres humanos.

E o que o conceito de sustentabilidade representa pra você?

A sustentabilidade, para o nosso negócio, nasce de um olhar para as pessoas dentro de casa. Não existe negócio sustentável sem uma equipe consistente. Para mim, é a combinação de como se faz a gestão interna da empresa para garantir um turnover aceitável, que as pessoas estejam felizes, que a cultura organizacional vá de encontro ao que se prega de fato e com os nossos clientes. Quando conseguimos servir bem ao cliente, o cliente consegue caminhar bem na jornada dele e ser exitoso com o apoio de uma marca como a nossa, que presta serviços de tecnologia, e com todo o ecossistema caminhando na mesma direção.  Temos o propósito claro de empoderar as pessoas, para que elas sejam a transformação do mundo, e a tecnologia é um habilitador disso, fazemos isso através do impacto que geramos nas empresas e também fazemos isso de forma direta. Vou dar um exemplo: enquanto o mundo da tecnologia cresce brutalmente, as universidades não formam pessoas em volume suficiente para suprir o mercado. Ao mesmo tempo, temos a América Latina e o Brasil com taxas de desemprego altíssimas. Criamos o programa Oracle Next Education, do qual sou cofundador, que leva conhecimento de tecnologia e empreendedorismo para preparar as pessoas  para os empregos do futuro, e depois que elas se formam (são seis a nove meses de conteúdo), as conectamos com grandes empresas, que são nossas clientes, para que elas sejam contratadas. Já temos 20 mil pessoas na plataforma. Pessoas que talvez estivessem à margem. É um exemplo de como levamos tanto resultado de negócios quanto impacto, tanto para as pessoas como para a comunidade da qual fazemos parte. Nunca somos, sempre estamos. É preciso aproveitar o momento, a cadeira em que estamos, para transformar o mundo, realizar projetos de impacto e fazer a diferença.

A sustentabilidade nasce de um olhar para as pessoas dentro de casa.

E qual o melhor conselho que você já recebeu na sua vida?

Sou afortunado, recebi muitos conselhos bons na vida, trabalhei com muita gente boa, aprendi muito e sou uma esponjinha. Mas eu lembro de um conselho que talvez não seja o mais genial, mas é super importante. Sucesso é relativo. Quando você se sente pleno é quando está bem balanceado na vida, fazendo coisas que gosta. Sucesso costuma estar relacionado a ser bem sucedido – que está relacionado a ter um alto salário, ter um alto cargo. Nem todo mundo quer isso. Faço mentoria para algumas pessoas. Recentemente, uma delas reconheceu, e chegamos juntos à essa conclusão, de que ela sofria  pressão social para galgar uma posição na empresa, que ela mesma não queria. Então o conselho que recebi quando era bem novo, foi “tenha certeza de que você está fazendo o seu melhor, independente do que você faça.” Comecei trabalhando no Bob’s, com 16 anos. Para fazer o melhor, seja o que for, é preciso dedicação, disciplina, estudo, e ter humildade para ouvir os feedbacks. Eu sempre procuro estar tranquilo de que, em cada contexto que estou, estou entregando o melhor de mim. Isso dá tranquilidade para crescer, e ao mesmo tempo perceber quando se está entregando tudo, e quando não se está. É aí se descobre, os pontos de evolução.


SOBRE A AUTORA

Claudia Penteado é editora chefe da Fast Company Brasil. saiba mais