Como superar emoções tóxicas que te afastam da mudança de carreira

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A pandemia levou muitos profissionais a repensar vidas e carreiras, provocando o maior aumento de pedidos de demissão que se tem registro, movimento conhecido como a “Grande Resignação”. O advento de arranjos mais flexíveis de trabalho combinado ao desejo  de abrir espaço para outras prioridades como saúde, família e bem-estar tem levado as pessoas a procurarem outras atividades profissionais que lhes permitam atender a essas prioridades e realizar um trabalho mais gratificante.

Mas encontrar um emprego melhor não é tão simples como escrever um currículo melhor, melhorar a  rede de contatos profissionais ou mesmo fazer uma boa entrevista de emprego. Envolve administrar essas cinco inevitáveis emoções que surgem sempre que se salta de um emprego estável rumo ao desconhecido.

TRISTEZA

Como alguém que trabalhou com muitas mudanças de carreira na última década, notei que pessoas que voluntariamente deixam suas posições para trás caem em uma dessas três categorias: aquelas que querem fugir de empregos indesejados, as que buscam pelo emprego desejado, ou os dois. A primeira opção é a que mais frequentemente lança alguém ao desafio de mudar o rumo da sua carreira.

Mas até mesmo sair de um emprego do qual não se gosta pode ser um momento triste, porque envolve a despedida  de colegas, o fim de uma rotina previsível e de uma organização onde se passou grande parte das horas de vigília. Reconhecer e lidar com esse sentimento de tristeza é importante, diz Jacinta Jiménez, vice-presidente de inovação em coaching da BetterUp. “Procure o significado e o propósito da posição que você está deixando e as lições que aprendeu com ela”, ela aconselha. Você pode então levar esses insights com você para o próximo capítulo da sua carreira.

DECEPÇÃO

Garantir qualquer trabalho demanda muita energia. Encontrar a vaga, divulgar o currículo, fazer boas entrevistas, aprender o básico, conhecer os novos colegas, construir sua reputação e se adaptar à cultura da organização. A razão pela qual investimos tempo e energia em qualquer coisa é porque acreditamos que nosso investimento trará retorno de alguma forma. Então, quando esse trabalho não sai como você esperava, abandoná-lo, muitas vezes, é decepcionante, porque significa abrir mão desse investimento.

O psicólogo organizacional Neil Morelli diz que a chave para prevenir o desapontamento excessivo é evitar estabelecer expectativas irreais para si mesmo. “Lembre-se de que nossa decepção geralmente vem de nossos padrões relativos, não objetivos”, diz ele. A recuperação envolve dar um passo para trás, avaliar o que exatamente deu errado com sua última função, usar isso como uma oportunidade para redefinir suas expectativas para sua próxima vaga, e  ser o mais proativo possível para encontrar um ambiente que atenda a essas expectativas.

VERGONHA

Se você já saiu de um trabalho que parecia ótimo no papel, provavelmente conhece outras pessoas que adorariam o seu emprego e muitas que parecem felizes em funções semelhantes. Então, quando você chega a um ponto em que não gosta mais do seu trabalho ou anseia por fazer algo diferente, pode se perguntar por que não pode ser apenas uma daquelas pessoas que sobe continuamente a escada corporativa ou permanece em um plano de carreira linear e previsível.

A Dra. Gail Saltz, professora associada de psiquiatria do Weill-Cornell Medical College, em Nova York, diz que muitos caem na armadilha de pensar que devem subir uma escada linear na carreira para ter sucesso. “Se você pensa assim, talvez esteja projetando a sua própria visão rígida nos outros ao pensar que eles o estão desprezando, se você fizer uma mudança”, diz ela. Lembre-se de que todos nós podemos nos esforçar para criar nossas próprias medidas de sucesso, orientadas por nossos próprios valores e prioridades, e não por aqueles impostos a nós pela sociedade.

MEDO

Deixar seu emprego para buscar outro envolve algum elemento de risco, especialmente ao se afastar de uma carreira linear tradicional. E se o seu próximo emprego for ainda menos satisfatório do que o atual? E se você não conseguir encontrar outro emprego tão rapidamente quanto deseja? O que uma lacuna em seu currículo fará com suas futuras perspectivas de emprego? Não saber o que vem pela frente pode ser muito assustador, e superar esse medo é fundamental para avançar para o próximo capítulo da sua carreira.

Criar coragem e otimismo diante do medo é mais fácil de falar do que fazer, mas, de acordo com Dick Finnegan, CEO da C-Suite Analytics, você pode explorar seu passado para reformular seu pensamento. “Faça uma lista das vezes no passado em que uma nova circunstância semelhante trouxe à tona aqueles níveis familiares de medo e como você reagiu a eles”, ele aconselha, observando que os passos bem-sucedidos que você deu então podem ajudá-lo a abraçar e superar seu medo da mesma forma que você fez antes.

EMBARAÇO

Embora a maioria de nós possa não querer admitir isso, nossa identidade e amor próprio costumam estar vinculados ao trabalho. Quando você encontra alguém pela primeira vez, especialmente em um contexto profissional, uma das primeiras perguntas que ouve é: “Então, o que você faz?”. Não ter uma resposta sólida para essa pergunta pode ser constrangedor, especialmente quando você está entre empregos, incerto sobre o que planeja fazer a seguir ou cercado por muitos outros profissionais que parecem ter suas vidas planejadas.

A ideia de abrir mão de uma renda estável ou de não ser mais o ganha-pão da família pode ser um golpe para o ego. Você pode presumir que os outros vão olhar para você e pensar que você jogou fora uma carreira perfeitamente boa.

Joe Flanagan, consultor sênior de empregos da VelvetJobs, diz que lidar com o constrangimento é se reconectar com seus interesses exclusivos. “Lembre-se de seus objetivos, valores e ideais e por que eles são importantes para você”, ele aconselha. “Se você conseguir se convencer de que essa mudança é a decisão certa, você não precisará convencer outra pessoa.”

Gerenciar emoções intensas envolvidas com a mudança é tão importante quanto gerenciar a logística real da mudança de planos de carreira. Reservar um tempo para reconhecê-las, aceitá-las e superá-las pode muitas vezes fazer a diferença entre continuar tolerando um trabalho com o qual não se está satisfeito e conseguir um trabalho realmente desejado.


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